terça-feira, 31 de julho de 2012

A Monsanto e o golpe de Estado no Paraguai


LUDOVIC VOET*

A empresa americana especializada em biotecnologia vegetal não tem as mãos limpas nos eventos recentes no Paraguai.
No dia 21 de outubro de 2011 o Ministro da Agricultura, o liberal Enzo Cardozo, permitiu ilegalmente a plantação da semente de algodão transgênica Bollgard Bt da companhia Monsanto para uso comercial no Paraguai. As reações dos movimentos camponeses e ecologistas foram imediatas.
Na Índia, já em 2009, a organização Navdanya publicava um relatório no qual afirmava que “o algodão Bt deixa os solos inférteis reduzindo a atividade microbiana”. Esse algodão transgênico contém uma bactéria tóxica. Mas para assegurar a si própria o máximo de lucro Monsanto está pronta para tudo. A empresa não respeitou decisão do escritório paraguaio do Comitê de Proteção das Plantas do Cone Sul (SENAVE) que reúne Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Brasil dirigida por Miguel Lovera, de não registrar essa semente transgênica porque ela não respeitava as regras do Ministério da Saúde Pública.
Durante o mês precedente ao golpe de Estado no Paraguai a Monsanto – através do lobby dos grandes proprietários de terras da UGP (União dos Grêmios de Produção) em coordenação com a mídia dominante - lançou uma campanha encarniçada exigindo a demissão de Lovera. Em 8 de junho a UGP fazia aparecer no jornal ABC, em seis colunas “12 argumentos para destituir Lovera”. A ministra da Saúde Esperanza Martinez e o ministro do Clima Osmar Rios não vinham mais aceitando as ordens da Monsanto. Lovera e eles foram acusados de corrupção pelo jornal ABC de propriedade de Aldo Zuccolillo, um dos membros de seu grupo de empresas (Grupo Zuccolillo), não é outro senão Hector Cristaldo, o presidente da UGP. A lista das ligações entre os grandes capitalistas no Paraguai é longa para se descrever...
Em 2011 a Monsanto fez negócios de 30 milhões de dólares, livres de impostos, somente pelos royalties pelo uso das sementes de soja transgênica no Paraguai. Ao mesmo tempo a Monsanto vende sementes transgênicas que são utilizadas pela cultura de soja sobre mais de três milhões de hectares. As transnacionais do agrobusiness não pagam quase nenhum imposto no Paraguai protegidas pela maioria de direita no Congresso. 60% do orçamento nacional vem da T.V.A. e 13% dos impostos são essencialmente pagos pelos trabalhadores. Entretanto a quantidade dos negócios das grandes multinacionais do agrobusiness é de 6 bilhões de dólares anuais, perto de 30% do PIB.
A gota d’água teria sido que o governo Lugo tinha acabado de criar um organismo de biossegurança sob a direção do Ministro da Agricultura a quem competia arbitrar sobre o uso de tal ou qual semente, o que significaria que o governo poderia tocar nos interesses e nos lucros desmedidos da Monsanto e seus associados no setor.
A UGP convocou para o dia 25 de junho um “Tratoraço”, uma manifestação para parar o país com a ajuda das máquinas agrícolas dirigida contra o governo Lugo e exigindo a destituição de Lovera. Os eventos de Curuguaty teriam sido a ocasião ideal para se desembaraçar do presidente embaraçoso. Em 22 de junho face aos fatos a Ministra da Saúde Esperanza Martinez remetia sua demissão ao “presidente Franco” por não sustentar o golpe de Estado recentemente realizado.

*Ludovic Voet publicou este artigo no jornal “Solidaire”, órgão do Partido do Trabalho da Bélgica.

 



Após jantar com Dilma, Hugo Chávez afirma que ingresso da Venezuela no Mercosul fortalece o bloco


Após jantar com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a entrada de seu país no Mercosul será importante para fortalecer o bloco. Nesta terça-feira (31), durante a Cúpula Extraordinária do Mercosul, a Venezuela ingressará oficialmente no bloco como membro pleno.
Segundo o Itamaraty, com o ingresso da Venezuela, o Mercosul contará com uma população de 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul), um PIB a preços correntes de US$ 3,3 trilhões (83,2% do PIB sul-americano) e um território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). A incorporação da Venezuela, ainda de acordo com o Itamaraty, altera o posicionamento estratégico do bloco, que passa a estender-se do Caribe ao extremo sul do continente e torna-se potência energética global tanto em recursos renováveis quanto em não renováveis.
Também participaram do jantar o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, a presidenta da Petrobrás, Graça Foster, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

domingo, 29 de julho de 2012

Denunciada onda de demissões por razões políticas no Paraguai


Paraguai Assunção, (Prensa Latina) Protestos em zonas do centro de Assunção e denúncias às delegações estrangeiras que acabam de visitar o Paraguai refletiram a insegurança trabalhista desatada pela onda de demissões de trabalhadores e servidores públicos em organismos públicos.
Os próprios jornais próximos ao governo de Federico Franco, instalado na Casa de Governo depois da destituição do presidente Fernando Lugo, noticiam hoje o que qualificam de "varrição" de centenas de pessoas que são acusadas de serem simpatizantes da esquerda paraguaia.
Há dias, agrupamentos como a Frente Guasú, coalizão de partidos e organizações sociais que apoia o presidente derrubado, assinalaram o início da demissão de uns mil trabalhadores de entidades estatais.
Os atingidos realizaram marchas de protesto que culminaram com a entrega de provas sobre o procedimento irregular de demissão às delegações de parlamentares europeus e sul-americanos presentes na nação para analisar a situação interna paraguaia.
A perseguições incluíram, segundo informaram, organismos como a Secretaria de Ação Social, órgãos de imprensa e ministérios, todos por razões políticas ou ideológicas.
Agora foi a vez da parte paraguaia das empresas que operam as grandes hidroelétricas binacionais Itaipú e Yaciretá, nas quais, de acordo com o anúncio dos próprios dirigentes nomeados pelo governo, começou a demissão de centenas de trabalhadores.
Somente a administração de Itaipú publicou hoje a informação sobre a primeira centena de demissões de um total de 500 desta primeira etapa, alegando que são próximos ao governo de Lugo ou não são simpatizantes de Franco.
Os demitidos assinalaram que, em todos os casos, são descumpridos os preceitos legais do aviso prévio e são demitidas pessoas com uma nota comunicando o fato.
Para eles, se trata de apenas o começo da maior operação conhecida de atropelo aos direitos trabalhistas e anunciaram a continuação dos protestos públicos contra esse fato.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

La alianza estratégica Brasil-Venezuela


El golpe de Estado en Paraguay puso en evidencia los cambios en la relación de fuerzas en la región sudamericana.

La respuesta de Brasil de acelerar el ingreso pleno de Venezuela al Mercosur es un mensaje a Estados Unidos. Cuando el ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva le dijo a Hugo Chávez "tu victoria será nuestra victoria", estaba siendo fiel al libreto de la mayor y más sólida alianza sudamericana, la alianza estratégica entre Brasil y Venezuela.
Cuando Lula llegó al gobierno en 2003 se produjo un salto cualitativo en las relaciones bilaterales. En 2005 se definió la Alianza Estratégica Brasil-Venezuela y en 2007 comenzaron los encuentros presidenciales trimestrales, que se prolongaron hasta 2010, para profundizar la alianza que incluye la integración de infraestructura y la complementación productiva que va más allá de las alianzas clásicas, incluyendo la otra alianza estratégica que tiene Brasil en la región, con Argentina.
Uno de los principales resultados es un fuerte aumento del comercio. De los 800 millones de dólares que intercambiaban en 2003 se pasó a 5 mil millones en 2011. Además estrecharon vínculos institucionales con asesorías en políticas públicas, cursos de formación que incluyeron la instalación del prestigioso centro de pensamiento e investigación IPEA (Instituto de Investigaciones Económicas Aplicadas) y Embrapa (empresa estatal de investigación agropecuaria) en Caracas.
La decisión de mayor peso estratégico fue la sustitución de uno de los ejes de integración de la IIRSA (Iniciativa para la Integración Regional Sudamericana), el Escudo Guyanés, por el Amazonia-Orinoco, donde se implementan proyectos de "desarrollo integral" que son "el paradigma brasileño de cooperación sur-sur", como señala el IPEA. Entre las acciones definidas figura la integración del sistema de transporte terrestre, fluvial y aéreo, la integración energética eléctrica y la posible construcción del postergado Gasoducto del Sur para interconectar Venezuela, Brasil y Argentina.
La finalidad consiste en establecer la interconexión de las cuencas del Amazonas y el Orinoco y la formación de un "espacio económico común" en el norte de Brasil y el sur de Venezuela, uno de "importancia geoestratégica" según el relatorio del IPEA de mayo de 2011. El análisis destaca "la cantidad y calidad" de los recursos que posee la región, entre los que incluye biodiversidad, cuencas hidrográficas, energía y mineral de hierro, "entre otros", que "despierta diversos intereses y enfrenta una creciente complejidad de actores".

Por último, el estudio apunta que el eje Amazonia-Orinoco "crea una nueva frontera de aproximación de Brasil con los países de la cuenca del Caribe en un contexto en que la política externa para la integración regional amplía su área de actuación de América del Sur hacia otras regiones de América Latina y del Caribe". La "nueva frontera" aparece ligada a la creación de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños, impulsada por Brasil en el mismo periodo.
En un lenguaje indirecto los estrategas brasileños insinúan las razones de fondo de esta alianza. Venezuela es la primera reserva de petróleo del mundo, la tercera de bauxita, la cuarta de oro, la sexta de gas natural y la décima reserva de hierro. En el estado brasileño de Roraima, fronterizo con Venezuela, están las mayores reservas de oro, niobio y estaño del mundo, además de importantes yacimientos de torio, cobalto, molibdeno, diamantes y titanio, según el Inventario Mineral del Escudo Geológico de Roraima, realizado por el Ministerio de Minas y Energía en 2003.
Pero lo más importante es que esa región alberga los mayores yacimientos de uranio del mundo, compartidos por Brasil, Venezuela y la Guayana Esequiba, zona en disputa desde 1966 entre Venezuela y la República Cooperativa de Guyana, ex Guayana Británica. Desde 2009 empresas canadienses explotan yacimientos de uranio en esa región, algo que no es visto con buenos ojos por Caracas y Brasilia.
La alianza estratégica tejida bajo el gobierno de Lula busca darle mayor densidad económica, demográfica y política a una de las zonas de mayor importancia geoestratégica del continente. En primer lugar, se trata de una alianza integral, que aborda desde la integración productiva en agroindustria, construcción civil, minerales y metalmecánica, que pasa por la cooperación entre las zonas francas de Manaos y Puerto Ordaz, hasta la infraestructura y la formación de cuadros.
Brasil está contribuyendo a promover el desarrollo industrial de Venezuela para que disminuya su dependencia de las exportaciones de petróleo, de las importaciones de 70 por ciento de los alimentos que consume y de la mayor parte de los productos industrializados, a través de la articulación de las cadenas productivas de ambos países.
En segundo lugar, fortalecer a Venezuela y "ocupar" la zona fronteriza es una respuesta al Plan Colombia (o sea al Comando Sur), cuya zona de expansión "natural" es precisamente la Amazonia y, de modo particular, la cuenca de los ríos Orinoco y Amazonas, además de la región andina.
En tercer lugar, Venezuela tiene una fuerte relación económica con China y se abastece de armamento ruso, pero ninguno de esos vínculos es excluyente respecto de su alianza con Brasil. Las multinacionales brasileñas de la construcción, como Odebrecht, realizan importantes obras en Venezuela y a través de Unasur (Unión de Naciones Suramericanas) se trabaja en proyectos de equipamiento militar.
Se acercan tiempos turbulentos. Una muestra son las declaraciones de Evan Ellis, del Centro de Estudios Hemisféricos de Defensa, adjunto al Pentágono, sobre las relaciones sino-venezolanas: “En la era de la globalización, tener como consejeros a banqueros chinos es el equivalente de tener consejeros militares de la Unión Soviética en Cuba y Nicaragua durante la guerra fría” (Miami Herald, 9/7/12). ¿Será por eso que militares brasileños celebran el ingreso de Venezuela al Mercosur, a la que consideran "la primera línea de defensa" de Brasil? (Defesanet, 25/6/12).
La Jornada

quinta-feira, 26 de julho de 2012

GOLPE DE ESTADO EN PARAGUAY NO CON OLOR A POLVORA COMO EN HONDURAS SINO CON OLOR DE DOLARES.


MARTIN ALMADA, PREMIO NOBEL  ALTERNATIVO DE LA PAZ. 2002.
El 22 de junio de 2012 el Congreso paraguayo   llevo a cabo una PARODIA DE  UN JUICIO POLITICO contra el Presidente Lugo, quien fue electo por voluntad popular. Argumentan el golpe porque el Presidente Lugo autorizó a organizaciones juveniles a realizar  un acto publico dentro de un edificio militar, también  por alentar el odio entre clases sociales y otros inconsistentes argumentos.
CUAL FUE EL FACTOR DETONANTE DEL JUICIO POLITICO?. El  desalojo violento de familias campesinas de un terreno propiedad del estado pero que el ex senador nostálgico de la dictadura Blas N.Riquelme se apropio ilegítimamente de dicha propiedad,para el efecto contó con el apoyo de una fiscala y de un juez. El resultado del desalojo violento dejo un saldo de la muerte de  6 policias y 11 campesinos con mas de 80 heridos. Cabe destacar que post dictadura mas de 100 campesinos fueron asesinados en un país  en el que 1% de los propietarios concentran mas del 80% de la tierras fértiles.
Hace un mes que ocurrió tan lamentable hecho  y hasta ahora no se realizó una acabada investigación de la masacre  porque detrás están obscuros intereses  “superiores”.
QUIENES ESTABAN DETRÁS DEL GOLPE? los partidos políticos tradicionales: colorado y liberal , y  el Partido Patria Querida que responde a la clase media alta, se sumaron la Asociación Rural del Paraguay, la Federación de la Industria y el Comercio, el Nuncio Apostólico y las autoridades de la Iglesia Catolica, los brasiguayos que se dedican a la producción de las sojas transgénicas, la USAID,la mafia de la droga  y la empresa Multinacional RIO TINTO, que quiere instalar en Paraguay la industria de Aluminio ,altamente contaminante. La Empresa canadiense RIO TINTO tiene cuenta pendiente con las organizaciones de Derechos  Humanos, por los crímenes cometidos en  Africa.
POR QUE CAYO LUGO?
Lugo asumió la Presidencia en alianza con el Partido Liberal,de tendencia de derecha o ultraderecha. Lugo estaba en el gobierno y la derecha en el Poder ,concentrada en el Congreso y el Poder Judicial.
Lugo para evitar que se repita en Paraguay el caso de Honduras, se alejó de la clase campesina que le llevo al poder  e iba cediendo  a las exigencias de la derecha reaccionaria.  Hizo concesiones permanentes u ocasionales a la contrarevolucion, creyendo que asi podría ganarse su buena voluntad. Los grupos  mas conservadores acabaron  con el  vacilante Presidente Lugo.
LA SITUACION ACTUAL. . Se violó y se sigue violando los derechos humanos sobre todo en la zona donde tuvo lugar la masacre. EL REVANCHISMO : se persiguió a los cuadros lugistas que estaban en la administración publica. Prosigue la impunidad instalada por la dictadura.
UNA  EVALUACION POSITIVA  A UN MES DEL  GOLPE,  hay plena conciencia que mejoró la salud y la educación  y el fortalecimiento de las organizaciones campesinas.
REPERCURSION EN EL PLANO INTERNACIONAL.
En la correlación de fuerza se debilitó el MERCOSUR, UNASUR Y CELAC, el golpe de Estado conspiró contra la salud de la democracia   en  América Latina.
LA MISION DE LA OEA fue lamentable. El Sr.Insulza solo escuchó la campana de los golpistas.Las organizaciones de DD.HH. no fueron  escuchadas.
CUAL FUE LA LECCION APRENDIDA DE ESTE GOLPE DE ESTADO?. Que solo la organización popular y su movilización sostiene un gobierno que quiere hacer una transformación social. Tenemos que facilitar que el pueblo tenga conciencia crítica para que sea capaz de impulsar la formación de cuadros para RESISTIR , ello exige la aplicación de la EDUCACION LIBERADORA de Paulo  Freire.
Asunción , 22 de julio de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um mês do golpe no Paraguai


No domingo passado o Partido Comunista do Brasil participou da jornada de solidariedade ao Paraguai, em Assunção. O evento foi organizado pelo Fórum de São Paulo para marcar o primeiro mês do golpe de Estado que derrubou o presidente legitimamente eleito do país, Fernando Lugo. O PCdoB esteve representado por Rubens Diniz da Comissão de Relações Internacionais.

A reunião da Frente Guazú — que reúne forças políticas de esquerda e movimentos sociais do país — foi liderada pelo ex-presidente Lugo e realizada com o objetivo de debater a situação política do Paraguai e os rumos da resistência de agora em diante, além de avaliar a situação jurídica e a repercussão internacional do golpe de Estado.

Unidade política para 2013

Em sua fala, Lugo colocou como centro da questão o desafio de construir a unidade política para 2013. “Não se trata de esquecer, de abrir mão de denunciar o golpe, trata-se de se preparar para a próxima batalha, de construir as condições legais para que o pleito de 2013 ocorra em condições normais e que a força do processo de mudanças se veja expressa tanto no parlamento como com um candidato à presidência com condições de disputar as eleições”, disse.

Realizando uma avaliação de todo o processo iniciado antes de sua vitória em abril de 2008, Lugo afirma que “nós começamos ao contrário do processo nos países de vocês. Elegemos uma pessoa, mas não havia uma força política capaz de dar sustentação. Nosso desafio agora é construir a unidade, fortalecer uma ferramenta que seja capaz de eleger inúmeros senadores, deputados e ter um candidato que dispute as eleições. Podemos ter a maior bancada no parlamento em 2013. Nossa batalha apenas iniciou, ela terá avanços e retrocessos, sombras e luzes; mais estamos seguros que vamos a vencer.”

O Paraguai pós-golpe

Durante o evento foi destacada a questão dos setores vinculados a terra, grandes produtores de soja, que buscam manter intactos seus privilégios, como o de não pagar imposto pela produção do produto agrícola.

Outro ponto ressaltado é que existe grande descontentamento nas bases tanto do Partido Liberal, como do Partido Colorado com o golpe. A situação faz com que a resistência não seja marcada pela disputa entre direita e esquerda, mas sim ente os golpistas e os que defendem a democracia e a soberania do voto popular. A palavra de ordem é democracia versus golpismo.

Sobre a questão do julgamento político que destituiu Lugo, foi realizada uma análise passo a passo do processo e de como ele estava viciado: até hoje as atas das sessões da câmara e do senado que realizaram o julgamento não foram entregues aos advogados de defesa, dificultando o trabalho.

As eleições de 2013 causam preocupação. Os participantes alertaram que as garantias para as eleições de 2013 não estão dadas. De acordo com Emiliano Camacho, um dos advogados do presidente Lugo, podem ocorrer outros julgamentos políticos com o intuito de retirar os direitos políticos de importantes lideranças da Frente Guazú para não possam concorrer às eleições no ano próximo.

Para o ex- chanceler, Jorge Lara Castro, o golpe no Paraguai é uma tentativa de desestabilizar o processo de integração regional. Segundo ele, as oligarquias locais querem ajudar na implementação da agenda da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) — os acordos de livre comércio— retorne à região. Para Castro, o intuito do golpe é acabar com o Mercosul.

Solidariedade internacional

O representante do PCdoB, Rubens Diniz, reafirmou a solidariedade das forças progressistas e democráticas do Brasil com o processo paraguaio. Destacou que o PCdoB esteve nos dias do golpe em Assunção, e que naquele mesmo dia o Partido participava em São Paulo de um ato em solidariedade a resistência.

Para Diniz, o golpe foi, em certa medida, uma ação contra o Mercosul. Assim, destacou que os setores da oligarquia não contavam com o respaldo internacional que o presidente Lugo teve. A presença dos chanceleres da Unasul, e logo em seguida a principal sansão contra estes setores foi a incorporação da Venezuela no Mercosul.

Deixando uma mensagem de esperança e de força, o representante do PCdoB afirmou acreditar que o processo iniciado em abril de 2008, não tem mais volta, que com unidade as forças que atuam na Frente Guazú podem dar uma resposta a altura aos setores da oligarquia, construindo uma terceira força política, rompendo desta forma com o tradicional bipartidarismo.

Jornada de solidariedade 15 de agosto

A reunião aprovou a realização de um grande encontro de solidariedade a ser realizada no dia 15 de agosto, no Paraguai. Esta data marca os quatro anos de governo do presidente Fernando Lugo. Deverá ser realizado um balanço de sua gestão acompanhado de um grande ato político cultural. Para tanto pediu apoio aos partidos do Fórum de São Paulo para a convocação de personalidades, movimentos juristas para conhecer e debater o ocorrido no Paraguai no último período.

Da Redação do Vermelho, com informações da Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB

sábado, 21 de julho de 2012

Protestos na despedida de eurodeputados


Assunção, (Prensa Latina) Em um dia de protestos, relacionadas com a rejeição à destituição do presidente Fernando Lugo, constituiu o último dia no Paraguai da missão do Parlamento Europeu, que foi informar-se sobre a situação no país.
Os legisladores receberam uma delegação de trabalhadores do Estado, despedidos de seus cargos, e a delegados de partidos políticos, mas deveram fazer um alto para escutar muito próximo do hotel, onde se encontravam, o reclamo de uma manifestação contra o Governo.
Também os protestantes eram empregados que lhe fizeram entrega aos deputados europeus de um legado contentivo dos casos de mil servidores públicos e trabalhadores cessados em seus cargos pelo novo Executivo, o qual qualificaram de perseguição política.
Depois de escutá-los atenciosamente, um dos visitantes lhes explicou que, ainda que não pudesse tomar posição, pois sua visita era de informação, submeteriam todos os dados entregados à consideração das diferentes instâncias do Parlamento Europeu.
Pouco depois, a chegada dos delegados dos partidos comprometidos com a destituição de Lugo acaparó os protestos dos manifestantes que os qualificaram de golpistas.
Paralelamente, ainda que longe da capital, o presidente da República, Federico Franco, designado pelo Congresso depois do julgamento político a Lugo, foi objeto também de protestos pela visita que realizava ao departamento de Caaguazú, segundo reportou a versão digital do jornal Ultima Hora.
Os manifestantes, que lograram demorar o percurso de Franco, o acusaram de ser um presidente de facto e lançaram consignas reclamando o regresso de Lugo ao cargo para o qual foi eleito.
Também durante o agitado dia se viram interrompidas na rede as páginas do site do Ministério de Fazenda e da agência oficial de notícias IP Paraguai pelo ataque de hackers e a colocação de materiais que nada gostaram ao governo.
Os eurodeputados partirão nesta quarta-feira de Assunção, ainda que se espera que, dantes do fazer, façam algumas breves declarações à imprensa como fechamento de sua visita.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As mentiras paraguaias das elites brasileiras


O maior conflito do Paraguai é reaver a terra usurpada por fazendeiros brasileiros. O país vizinho "cedeu" a estrangeiros 25% do seu território cultivável

Mal havia terminado o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo e flamantes porta-vozes da burguesia brasileira saíram em coro a defender os golpistas.
Seus argumentos eram os mesmos da corrupta oligarquia paraguaia, repetidos também de forma articulada por outros direitistas em todo continente. O impeachment, apesar de tão rápido, teria sido legal. Não importa se os motivos alegados eram verdadeiros ou justos.
Foram repetidos surrados argumentos paranoicos da Guerra Fria: "O Paraguai foi salvo de uma guerra civil" ou "o Paraguai foi salvo do terrorismo dos sem-terra".
Se a sociedade paraguaia estivesse dividida e armada, certamente os defensores do presidente Lugo não aceitariam pacificamente o golpe.
Curuguaty, que resultou em sete policiais e 11 sem-terra assassinados, não foi um conflito de terra tradicional. Sem que ninguém dos dois lados estivesse disposto, houve uma matança indiscriminada, claramente planejada para criar uma comoção nacional. Há indícios de que foi uma emboscada armada pela direita paraguaia para culpar o governo.
Foi o conflito o principal argumento utilizado para depor o presidente. Se esse critério fosse utilizado em todos os países latino-americanos, FHC seria deposto pelo massacre de Carajás. Ou o governador Alckmin pelo caso Pinheirinho.
O Paraguai é o país do mundo de maior concentração da terra. De seus 40 milhões de hectares, 31.086.893 ha são de propriedade privada. Os outros 9 milhões são ainda terras públicas no Chaco, região de baixa fertilidade e incidência de água.
Apenas 2% dos proprietários são donos de 85% de todas as terras. Entre os grandes proprietários de terras no Paraguai, os fazendeiros estrangeiros são donos de 7.889.128 hectares, 25% das fazendas.
Não há paralelo no mundo: um país que tenha "cedido" pacificamente para estrangeiros 25% de seu território cultivável. Dessa área total dos estrangeiros, 4,8 milhões de hectares pertencem brasileiros.
Na base da estrutura fundiária, há 350 mil famílias, em sua maioria pequenos camponeses e médios proprietários. Cerca de cem mil famílias são sem-terra.
O governo reconhece que desde a ditadura Stroessner (1954-1989) foram entregues a fazendeiros locais e estrangeiros ao redor de 10 milhões de hectares de terras públicas, de forma ilegal e corrupta. E é sobre essas terras que os movimentos camponeses do Paraguai exigem a revisão.
Segundo o censo paraguaio, em 2002 existiam 120 mil brasileiros no país sem cidadania. Desses, 2.000 grandes fazendeiros controlam áreas superiores a mil ha e se dedicam a produzir soja e algodão para empresas transnacionais como Monsanto, Syngenta, Dupont, Cargill, Bungue...
Há ainda um setor importante de médios proprietários, e um grande número de sem-terra brasileiros vivem como trabalhadores por lá. São esses brasileiros pobres que a imprensa e a sociologia rural apelidaram de "brasiguaios".
O conflito maior é da sociedade paraguaia e dos camponeses paraguaios: reaver os 4,8 milhões de hectares usurpados pelos fazendeiros brasileiros. Daí a solidariedade de classe que os demais ruralistas brasileiros manifestaram imediatamente contra o governo Lugo e a favor de seus colegas usurpadores.
O mais engraçado é que as elites brasileiras nunca reclamaram de, em função de o Senado paraguaio sempre barrar todas as indicações de nomes durante os quatro anos do governo Lugo, a embaixada no Brasil ter ficado sem mandatário durante todo esse período.

JOÃO PEDRO STEDILE, 58, economista, é integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e da Via Campesina Brasil

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O golpe no Paraguai e as veias abertas da direita brasileira


O senador Álvaro Dias sabe que a moeda de troca do Paraguai é abrir seu território para a implantação de uma base militar norte-americana. Não importa, ou melhor, é certamente o que mais importa. A CIA certamente não esquecerá o favor do senador do PSDB.

Enio Squeff, da Carta Maior

A ida do senador Álvaro Dias ao Paraguai e a sua pretensão de inquirir o governo brasileiro por ter seguido, em conjunto, a recomendação do Uruguai, do Chile e da Argentina de suspender a presença do Paraguai no Mercosul e no Unasul, lembra aquele personagem do grande intelectual e decantado direitista brasileiro, Nelson Rodrigues, que numa das cenas de uma de suas peças coloca um dos grandes canalhas que compõem seu repertório, a tentar tirar uma casquinha da viúva no momento mesmo em que o morto está sendo velado.

O senador Álvaro Dias sabe que a moeda de troca do Paraguai é abrir seu território para a implantação de uma base militar norte-americana. Não importa, ou melhor, é certamente o que mais importa. A CIA certamente não esquecerá o favor do senador do PSDB.

"Senza paura" recomenda, em italiano, outro personagem de uma outra piada: de fato, todos os brasileiros que conhecem medianamente a história do Brasil, carregam um peso na consciência em relação ao Paraguai. A guerra da Tríplice Aliança - Argentina, Uruguai e Brasil - contra o pequeno Paraguai pode ser caracterizada como um massacre. Coube ao Brasil, aliás, o papel predominante na matança. O conde d'Eu marido da princesa Isabel, substituto do Duque de Caxias na fase final da guerra, parece ter se esmerado em matar quantos paraguaios pudesse. Não se duvide de que almejava a glória de grande general - um galardão que - quem sabe - o poria em pé de igualdade com alguns de seus pares na Europa, onde a sua fama não ia muito além de um simples escroque.

Não era, de qualquer maneira, um militar profissional ou minimamente competente: na sua encenação de grande estrategista, cometeria atrocidades inomináveis. A morte do ditador Solano Lopez , juntamente com seu filho de doze anos - este na frente da própria mãe -, não foi, apesar de tudo, o pior. Antes já tinha mandado matar crianças que foram arregimentados à última hora por Solano Lopez, para uma resistência àquelas alturas, inteiramente inútil. Um profissional faria questão de pegar o ditador paraguaio vivo. Seria bem melhor. Os próprios historiadores militares brasileiros concordam, enfim que o Conde, não teria sido o comandante militar mais recomendável para desfazer a má fama de um país escravagista como era o Brasil da época. Mas Solano Lopez, ainda venerado no Paraguai por sua resistência contra três nações vizinhas, não foi menos celerado por ter sido um ditador modernizante (que é o que muitos defendem de seu governo): teria mandado açoitar parentes e a própria mãe, além de perseguir até a morte alguns de seus possíveis adversário.

Em outras palavras, por mais que se simpatize com o sofrido Paraguai, não há como imaginar que a declaração de guerra simultaneamente contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai pudesse ter qualquer resultado favorável para o paraguaios. Foi literalmente uma loucura.

Comparações históricas quase nunca elucidam muita coisa, mas Solano Lopez parece ter seguido o exemplo de Dom Sebastião o rei que lançou Portugal numa das mais doloridas e decadentes fases da sua história enquanto nação. A ditadura salazarista seria apenas o corolário de um país que quatro séculos antes tinha sucumbido na aventura de um moleque beato e enlouquecido, como foi Dom Sebastião. Com o Paraguai de Solano Lopez, que também redundou num Stroessner, por mais que se abomine a crueldade, principalmente brasileira, que se seguiu à derrocada do país, deu-se o mesmo. Não se duvide de que alguns competentes generais paraguaios estimassem que a guerra contra a Tríplice Aliança fosse tão tresloucada quanto a aventura marroquina do rei português que praticamente encerrou uma fase de glória do país que colonizou o Brasil.

No entanto, Solano Lopez - talvez nem tanto quanto Dom Sebastião - ainda é venerado. E pior - imitado .

Isso talvez não seja o que foi levado em conta pelo senador, que deve ter muitos amigo entre os latifundiários brasilguaios - os brasileiros que levaram suas experiências discricionárias para as terras paraguaias. Foram eles que se juntaram à elite do País vizinho para o golpe fantasiado de impeachment, que aconteceu no Paraguai. Qualquer observador minimamente honesto sabe que o impeachment contra Lugo, perpetrado pelo congresso paraguaio em apenas trinta horas, não se deu por qualquer "incomensurável incompetência do presidente; ou por mero capricho do legislativo do país vizinho.

A própria adesão ou indiferença da grande imprensa brasileira - com a notável exceção de um ou outro comentarista, como Miriam Leitão, na rádio CBN (Globo) - expõe à luz o que foi perpetrado; mas que não parece ter sido tramado nas trevas. Desde que prometeu fazer uma reforma agrária, no Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo contou com a quase unanimidade da oposição da imprensa latino-americana. Apesar de consabida e esperada, essa oposição mesmo assim surpreende. No que a América Latina tem de mais atrasado - que é o sistema de apropriação do latifúndio - aí a grande imprensa - e seus blogueiros direitistas - unem-se de forma inequívoca em posição de sentido.

Ao que parece, não saímos ainda do estágio da barbárie colonial. E toda a ação contrária à manutenção do latifúndio contra as velhas elites das classes dirigentes não só do Brasil- saem da toca, na adesão à qualquer quartelada - seja em Honduras, na Bolívia, ou no Paraguai. Nada paradoxalmente novo, aliás. O que há de mais ou menos inédito nos tempos recentes saídos da ditadura, parece a ação orquestrada de partidos que até ontem proclamavam sua fidelidade à democracia. E que não hesitam em escancarar a América do Sul e seus governos de esquerda, às represálias norte-americanas com evidente perigo para as democracias saídas a duras penas das ditaduras militares de assustadora memória.

Pode-se, em suma, discutir o direito do senador de fazer o que seus interesses reclamam: depois da formidável derrocada do DEM, o PSDB obra bem em aninhar a direita brasileira e contradizer assim a tal "social democracia que ostenta em seu nome. Mas parece haver uma anomalia num partido brasileiro que acha de bom alvitre ter norte-americanos e seus mísseis, logo ali, nas fronteiras do Brasil.

É que as coisas, na verdade, não parecem ter dado muito certo. Ao derrubar Lugo e ao lograr que o Paraguai fosse suspenso, quem entrou no Mercosul e no Unasul foi justamente a Venezuela, até ontem impedida de ingressar no bloco pela negativa do Congresso paraguaio de admiti-la. Ou seja, consignado o golpe, deu-se um autêntico tiro pela culatra - mais uma trapalhada da CIA. Pelo menos é o que parece.

Nelson Rodrigues, em suas tragicomédias, sempre se esmerou em mostrar que o pior das relações familiares brasileiras era o cinismo. O senador e líder do PSDB, ao argüir o direito do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do próprio Chile de suspenderem o Paraguai deixa claro que, para ele e seu partido, vale tudo. Inclusive a troca do grande mercado venezuelano - não foi o que sempre valeu para o PSDB? - pela clara ameaça que representa ao Cone Sul os mísseis norte-americanos em território paraguaio. Age dentro do mais puro cinismo - mas é o que temos. E como "óbvio ululante", para mais uma vez evocar Nelson Rodrigues em seu frasismo incontinente. 


Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

sábado, 14 de julho de 2012

Presidente Mujica: “narcocoloradismo” derrubou Fernando Lugo


Assunção, (Prensa Latina) A denúncia do presidente uruguaio, José Mujica, sobre vínculos de setores do Partido Colorado do Paraguai com o narcotráfico, desatou uma profunda crise nessa organização, principal protagonista na destituição do presidente Fernando Lugo.
Em suas declarações, que causaram um grande impacto no setor político paraguaio, Mujica assinalou que o "narcocoloradismo" foi o autor da conspiração para materializar o golpe parlamentar destinado a tirar o chefe de Estado eleito pela população de seu cargo.Isso se converteu no sinal para que, em meio a violenta disputa pela candidatura presidencial para as eleições de 2013, na qual o partido está envolvido, todas os olhares se dirigissem para um dos candidatos presidenciais, o opulento empresário Horacio Cartes.
Já o presidente Lugo havia assinalado que Cartes foi o principal organizador do golpe ao realizar um pacto com o então vice-presidente da República, Federico Franco, dirigente do Partido Liberal, que ocuparia a presidência da República até as próximas eleições em troca de apoiar seu plano.A direção dos colorados, da qual fazem parte outros dois candidatos, Lilian Samaniego e Ivier Zacarías, exigiu publicamente de Cartes uma declaração na qual esclareça publicamente suas relações com o narcotráfico e com a lavagem de dinheiro.O pedido de Samaniego e Zacarías, além de fazer parte da luta interna na entidade pela candidatura presidencial, baseou-se em elementos públicos sobre a conduta de Cartes que, imediatamente, voltaram a sair à luz nos debates realizados pelos representantes das duas partes nos meios de comunicação.Segundo esses dados apresentados pelos adversários de Cartes, este esteve foragido da justiça durante quatro anos acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, até que se entregou na década dos 90, foi condenado em várias instâncias, mas surpreendentemente seu caso foi depois arquivado.
Foi acusado também, disseram seus colegas de partido, de tráfico de cigarros e drogas, enquanto um telegrama difundido pelo Wikileaks o situou sob a mira de agências antidrogas pelo mesmo delito de facilitar através de seu banco Amambay a lavagem de dinheiro.A polêmica no interior do Partido Colorado subiu de tom nos últimos dias enquanto acerca-se a data estabelecida pelo Tribunal de Justiça Eleitoral para a apresentação oficial da lista de candidatos para as próximas eleições.
O tom das acusações e os elementos apresentados, dos quais Cartes se defende atacando contra seus oponentes, dão cada vez mais valor à denúncia do presidente Mujica sobre a vinculação do famoso narcocoloradismo com o golpe contra Lugo que, concretamente, não é condenado pelos Estados Unidos.

Fonte: Prensa Latina

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Paraguai: A desinformação midiática e o golpe da Monsanto


Por Leonardo Wexell Severo
Como as multinacionais e os conglomerados de comunicação atuaram coordenados na derrubada do presidente Fernando Lugo.
Uma grotesca farsa caiu como raio em céu claro sobre o presidente constitucional do Paraguai, Fernando Lugo. Em questão de horas o mandatário teve o seu "impeachment" proposto, analisado e votado pelo Congresso, mediante um processo metodicamente orquestrado pelas multinacionais Monsanto e Cargill, a oligarquia latifundiária, as elites empresariais e sua mídia.
As comemorações estampadas nas capas dos principais jornais paraguaios dão a dimensão do ódio de classe, com as desclassificadas mentiras destiladas contra quem se dispôs - ainda que com vacilos e limitações - a virar a página de abusos e subserviência aos ditames de Washington e suas empresas.

"A situação de expectativa gerada pela decisão dos legisladores de submeter o presidente Fernando Lugo a juízo político foi, finalmente, resolvida de um modo ordenado, pacífico e respeitoso da legalidade, da institucionalidade e dos critérios essenciais de equidade que devem presidir processos tão delicados como o que acaba de ser levado a bom termo. A destituição do presidente abre fundadas esperanças num futuro melhor" - Editorial do jornal ABC Color
"Um presidente sem respaldo, que se mostra negligente e incapaz, não pode seguir governando. Sem lugar a dúvidas, o erro mais grave de Fernando Lugo foi o respaldo outorgado a dirigentes de supostos camponeses que receberam carta branca do governo para invadir terras, ameaçar e desafiar o Estado de Direito. Lugo decepcionou a grande maioria da cidadania paraguaia com suas decisões errôneas, seu sarcasmo, sua desastrosa vida pessoal, sua ambiguidade e sua crescente amizade com inimigos declarados da democracia, como Hugo Chávez e os irmãos Castro" - Editorial do jornal Vanguardia
"Lugo tem princípios populistas (não necessariamente incendiários). A reputação de honestidade lhe ajudou a ganhar, porém necessitará um pouco da ajuda do céu para exercer a Presidência" - Informação da Embaixada dos EUA, datada de junho de 2008, vazada pelo WikiLeaks, antes da posse de Lugo.
O cerco midiático contra Lugo vinha se fechando, num país em que 85% das terras encontram-se nas mãos de 2% da população e onde os mesmos donos dos três principais jornais, umbilicalmente vinculados às transnacionais e ao sistema financeiro, também controlam as emissoras de rádio e televisão.
Assim, de forma suja e monocórdica, foram convocadas manifestações, com bloqueio de estradas, para o próximo dia 25 de junho. Grandes "tratoraços" em protesto contra a decisão do governo em favor da saúde da população e da soberania alimentar - de não liberar a semente de algodão transgênico Bollgard BT, da Monsanto, cuja sequência genética está mesclada ao gene do Bacillus Thurigensis, bactéria tóxica que mata algumas pragas de algodão.
A decisão, que afetava milionários interesses da multinacional estadunidense, havia sido comunicada pelo Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), uma vez que a liberação não tinha o parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Meio Ambiente.
"A Monsanto, através da UGP, estreitamente ligada ao Grupo Zuccolillo, que publica o diário ABC Color, se lançou contra a Senave e seu presidente Miguel Lovera por não ter inscrito a sua semente transgênica para uso comercial no país", denuncia o jornalista e pesquisador paraguaio Idilio Méndez Grimaldi.
Para tirar o Senave do caminho foi alegado o surrado argumento da "corrupção" no órgão, o mesmo estratagema da máfia de Carlinhos Cachoeira para tomar de assalto o DNIT e alavancar negociatas, via utilização de seus vínculos com a revista Veja para denunciar desvios no órgão - conseguindo inclusive a queda do ministro dos Transportes. Desta forma, "denúncias" por parte de uma pseudo-sindicalista do Senave, Silvia Martínez, ganharam manchetes na mídia canalha. O jornal ABC Color do dia 7 de junho último acusou o chefe do Senave, Miguel Lovera, de "corrupção e nepotismo na instituição que dirige". Mas o fato é que a pretensa sindicalista advogava em causa própria, do marido e de seus patrocinadores.
Conforme revelou Grimaldi, "Silvia Martínez é esposa de Roberto Cáceres, representante técnico de várias empresas agrícolas - todas sócias da UGP (Unión de Grêmios de la Producción) - entre elas Agrosán, recentemente adquirida pela Syngenta, outra transnacional, por 120 milhões de dólares".
Algo similar à UDR (União Democrática Ruralista) de Ronaldo Caiado, e aos ruralistas da senadora Kátia Abreu, a UGP é comandada por Héctor Cristaldo, sustentado por figuras como Ramón Sánchez - vinculado ao setor agroquímico - entre outros agentes das transnacionais do agronegócio. "Cristaldo integra o staff de várias empresas do Grupo Zuccolillo, cujo principal acionista é Aldo Zuccolillo, diretor proprietário do jornal ABC Color desde sua fundação sob o regime de Stroessner, em 1967. Zuccolillo é dirigente da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP)", esclarece Idílio Grimaldi. O jornalista lembra que o Grupo Zuccolillo é o principal sócio no Paraguai da Cargill, uma das maiores transnacionais do agronegócio do mundo. "Tal sociedade construiu um dos portos graneleiros mais importantes do Paraguai, o Porto União, a 500 metros da absorção de água da Companhia de Saneamento do Estado, sobre o rio Paraguai, sem qualquer restrição", esclarece.
Com a proteção do apodrecido Congresso que condenou Lugo, as transnacionais do agronegócio no Paraguai praticamente não pagam impostos, com uma carga tributária de 13% do PIB, tão insignificante que acaba inviabilizando os serviços públicos. Vale lembrar que a saúde e a educação eram totalmente privadas antes da ascensão de Lugo à Presidência, num país em que os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da carga tributária, uns 5 milhões de dólares - segundo estudo do Banco Mundial - ainda quando a renda do agronegócio alcance cerca de 6 bilhões de dólares anuais, em torno de 30% do PIB.
Na sexta-feira, 8 de junho, a UGP publicou no ABC Color seus "12 argumentos para destituir Lovera". Tais "argumentos" foram apresentados ao então vice-presidente da República, Federico Franco, correligionário do ministro da Agricultura e pró-Monsanto, recém nomeado "presidente".
Na sexta-feira, 15, descreve Grimaldi, "em função de uma exposição anual organizada pelo Ministério de Agricultura e Pecuária, o ministro Enzo Cardozo deixou escapar um comentário à imprensa: um suposto grupo de investidores da Índia, do sector agroquímico, cancelou um projeto de investimentos no Paraguai pela alegada corrupção no Senave. Nunca esclareceu de que grupo se tratava. Nas mesmas horas daquele dia ocorriam os trágicos acontecimentos de Curuguaty, onde morreram onze camponeses e seis policiais". O sangue derramado foi o pretexto utilizado pela direita para o impeachment.

COMO NA VENEZUELA, USO DE FRANCO-ATIRADORES
O que se sabe é que a exemplo da tentativa de golpe de Estado na Venezuela, onde a CIA utilizou franco-atiradores para assassinar os manifestantes contrários ao governo para jogar a culpa do massacre sob os ombros de Hugo Chávez, também em Curuguaty agiram franco-atiradores. E dos bem profissionais. E movidos pelos mesmos propósitos.
Na região de Curuguaty está localizada a estância de Morombí, propriedade do latifundiário e grileiro Blas Riquelme, dono de mais de 70 mil hectares. O "terrateniente" é uma das viúvas da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989), um dos principais beneficiados pela tristemente célebre Operação Condor, desenvolvida pela CIA no Cone Sul para torturar, assassinar e desaparecer com todo aquele que ousasse contrariar os interesses estadunidenses na região. Ele também foi presidente do Partido Colorado por longos anos e senador da República, sendo igualmente dono de uma rede de supermercados e estabelecimentos pecuários.
Como Riquelme havia se apropriado mediante subterfúgios legais de aproximadamente dois mil hectares pertencentes ao Estado paraguaio, camponeses sem terra ocuparam o local e solicitaram do governo Lugo a sua desapropriação para fins de reforma agrária. Um juiz e uma promotora ordenaram a retirada das famílias por meio do Grupo Especial de Operaciones (GEO) da Polícia Nacional, esquadrão de elite que, em sua maioria, foi treinado por militares dos EUA na Colômbia, durante o governo fascista de Álvaro Uribe.
Na avaliação de Grimaldi, que também é membro da Sociedade de Economia Política do Paraguai (SEPPY), somente uma sabotagem interna dentro dos quadros da própria inteligência da Polícia, com a cumplicidade da Promotoria, explicaria a emboscada na qual morreram seis policiais. Uma ação estrategicamente planejada com um objetivo bem definido. "Não se compreende como policiais altamente treinados, no marco do Plano Colômbia, pudessem cair tão facilmente numa suposta armadilha feita por camponeses, como quer fazer crer a imprensa dominada pela oligarquia. A tropa reagiu, matando 11 camponeses e deixando cerca de 50 feridos". Entre os policiais mortos, ressalta, estava o chefe da GEO, Erven Lovera, irmão do tenente-coronel Alcides Lovera, chefe da segurança do presidente. Um recado claro e preciso para Lugo.

A SERVIÇO DA MONSANTO
Conforme o jornalista, no marco da apresentação preparada pelo Ministério da Agricultura - a serviço dos EUA -, a transnacional Monsanto anunciou outra variedade de algodão, duplamente transgênico: BT e RR ou Resistente ao Roundup, herbicida fabricado e patenteado pela multinacional, que quer a liberação da semente no país.
Para afastar incômodos obstáculos, antes disso o diário ABC Color vinha denunciando "presumíveis" fatos de corrupção dos ministros do Meio Ambiente e da Saúde, Oscar Rivas e Esperança Martínez, que também haviam negado posição favorável à Monsanto. A multinacional faturou no ano passado, somente com os royalties pelo uso de sementes transgênicas de soja no Paraguai, 30 milhões de dólares, livre de impostos, (porque não declara esta parte de sua renda). "Independente disso, a multinacional também fatura pela venda das sementes transgênicas. Toda a soja cultivada é transgênica numa extensão próxima aos três milhões de hectares, numa produção em torno de sete milhões de toneladas em 2010", revela Grimaldi.
Por outro lado, acrescenta o jornalista, a Câmara de Deputados já aprovou projeto de Lei de Biosseguridade, que contempla criar uma direção de Biosegurança com amplos poderes para a aprovação do cultivo comercial de todas as sementes transgênicas, sejam elas de soja, milho, arroz, algodão... Este projeto de lei elimina a atual Comissão de Biosseguridade, ente colegiado de funcionários técnicos do Estado paraguaio, visto como entrave aos desígnios da Monsanto.
"Enquanto transcorriam todos esses acontecimentos, a UGP vinha preparando um ato de protesto nacional contra o governo de Fernando Lugo para o dia 25 de junho, com máquinas agrícolas fechando parte das estradas em diferentes pontos do país. Uma das reivindicações do denominado 'tratoraço': a destituição de Miguel Lovera do Senave, assim como a liberação de todas as sementes transgênicas para cultivo comercial".
Dado o golpe, como estamparam os grandes conglomerados de mídia no Paraguai neste sábado, "a manifestação da UGP foi suspensa". Afinal, "há um novo governo, mais sensível ao mercado".

Governo golpista recua e diz que não vai instalar bases dos EUA


Nesta terça-feira, o atual governo paraguaio, comandado por Federico Franco, afirmou que não tem intenções de instalar uma base militar estadunidense em seu território, tal como levantado na semana passada pelo deputado José López Chávez. 
O ministro de Relações Exteriores paraguaio, José Félix Fernández, promoveu uma conferência para desmentir a intenção. "Em nome do governo nacional me vejo obrigado a desmentir essa possibilidade", disse, assegurando que "não existem planos oficiais neste sentido" e que "não existe nenhuma conversação a respeito" do assunto.

Chávez, no entanto, havia declarado que representantes do Pentágono visitaram o Paraguai dias após o golpe parlamentar que resultou na destituição de Fernando Lugo da presidência do país, conforme divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo. Os militares estadunidenses teriam ido a Assunção para conversas sobre programas de cooperação.

De acordo com o López Chávez, a ideia seria instalar a base no vilarejo de Mariscal Estigarribia, perto da fronteira com a Bolívia. O deputado justificou o pedido sob a alegação de que a Bolívia está realizando uma corrida armamentista e que o Paraguai precisa proteger essa área pouco povoada do país.

Na segunda-feira antes do pronunciamento do governo, o ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, classificou de "esdrúxula" a possibilidade de instalação de uma base militar dos Estados Unidos no Paraguai.

"Eu não sou ministro das Relações Exteriores, mas seria uma coisa tão esdrúxula que resultaria no isolamento a tão longo prazo do Paraguai que acho que não vale a pena. Não creio que ocorrerá", afirmou Amorim.

Da Redação do Vermelho

Se presentó material jurídico sobre nulidad del juicio político a Fernando Lugo


La Plataforma de Organizaciones en Defensa de la Democracia, conformada por diversas organizaciones ciudadanas presentó un documento que ofrece argumentos legales sobre la nulidad del juicio político que concluyó en la destitución del presidente democrático, Fernando Lugo.
La intención de la Plataforma es que a través de este documento se pueda acercar a la ciudadanía un insumo, sobre los argumentos que sostienen que el juicio político, del pasado 22 de junio, fue ilegal, inconstitucional e ilegítimo.
La semana próxima será presentado otro documento con un carácter más pedagógico y con un lenguaje más accesible que traduzca los argumentos jurídicos del material en cuestión.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Golpistas paraguaios criaram problemas na integração da América Latina


O golpe contra o governo de Fernando Lugo no Paraguai, a nova derrota das forças progressistas no México e os acontecimentos recentes no Peru e na Bolívia indicam focos de tensão no continente. Mas, não são os únicos. Os acontecimentos no Paraguai, seguido da incorporação da Venezuela no Mercosul desencadearam forte conflitos no continente sul-americano, particularmente entre o Paraguai e a Venezuela, mas também no Uruguai e arrastaram o Brasil para o debate. Por outro lado, o ressurgimento da crise econômica na Argentina suscita preocupações. Agita-se a América Latina.

Paraguai e Venezuela partem para a briga

Uma das reações mais fortes ao afastamento relâmpago de 
Fernando Lugo veio da Venezuela. Hugo Chávez ordenou a imediata retirada de seu embaixador em Assunção e a suspensão de envio de petróleo ao Paraguai: "Vamos retirar o envio de petróleo. Não apoiaremos para nada esse golpe. A partir deste instante, ministro (Rafael) Ramirez, que cesse o envio de petróleo a esse país", afirmou Chávez, durante uma cerimônia do dia do Exército venezuelano, dois dias após o golpe. 
A decisão da Venezuela foi efetivamente a primeira sanção comercial – e única – que o Paraguai sofreu, porém, não pouca coisa, uma vez que o país é dependente do petróleo venezuelano. A reposta ao gesto e a veemência da condenação do golpe por parte da Venezuela foi respondida pelo Paraguai com a expulsão do embaixador J
osé Javier Arrúe De Pablo. 
O Paraguai declarou persona non grata o embaixador e acusou Caracas de ingerência em sua política interna. O governo paraguaio divulgou um vídeo entre militares paraguaios e o chanceler venezuelano Nicolás Maduro. De acordo com a ministra de Defesa do Paraguai, María Liz García, Maduro se reuniu com a cúpula militar paraguaia para evitar a destituição do presidente Fernando Lugo. O objetivo de Maduro seria convencer os militares a emitir um comunicado dizendo que, se o Senado derrubasse o presidente, eles continuariam leais a Lugo. O vídeo editado, de um minuto e 50 segundos de duração, inclui fotos e nomes dos participantes. 
O governo venezuelano reagiu às declarações do Paraguai e disse que houve manipulação no vídeo. A rede multiestatal 
TeleSur publicou a íntegra do vídeo usado pelo novo governo do Paraguai. Nas imagens da TeleSur, Maduro não aparece sozinho com os militares, como havia insinuado o material editado e transmitido por uma televisão paraguaia. Ele estava acompanhado de seus pares da Unasul. "Acabaram de dar um golpe e acusam os outros de golpes e contragolpes. Essa acusação não é crível”, disse o chanceler venezuelano.
O Senado paraguaio rechaçou ainda a decisão de integração da Venezuela ao 
Mercosul. Em uma nota, afirmou que a suspensão é "ilegal, ilegítima e violadora do devido processo". Chávez ironizou a decisão e acusou senadores paraguaios de pedir-lhe suborno para permitir o ingresso de seu país no bloco. "São uma verdadeira máfia pedindo dinheiro", disse Chávez sem dar nomes, mas acrescentando haver testemunhas brasileiras e argentinas.
Ressentidos com a suspensão no Mercosul e a entrada da Venezuela à sua revelia, paraguaios estão ameaçando colocar uma pergunta incômoda a Brasil, Argentina e Uruguai: e se o Senado de Assunção decidir agora votar - e rejeitar - a inclusão de Caracas no bloco sul-americano? A iniciativa teria inicialmente apenas efeito político, e não jurídico, mas pode embaralhar as coisas mais à frente.
Segundo Milda Rivarola, da Academia de História de Assunção, a punição imposta ao Paraguai está sendo usada por "setores mais conservadores e nacionalistas" do Congresso como bandeira política. Segundo ele, “é a política externa convertida em política interna para conseguir mobilizar as pessoas, não há visão de Estado”.

Contencioso no Mercosul

Indiretamente o golpe no Paraguai desatou outra crise, dessa vez no Uruguai. A decisão pela entrada da Venezuela no
Mercosul passou a dividir o governo uruguaio. 
Com o afastamento do Paraguai do 
Mercosul, imposta pelos seus pares na organização multilateral como sanção ao golpe, abriu-se a possibilidade de ingresso da Venezuela no bloco econômico. A entrada da Venezuela no Mercosul já tinha sido aprovada há seis anos em uma cúpula presidencial. Aceita nos Congressos da Argentina, Brasil e Uruguai, esbarrava na negativa paraguaia. 
A decisão de aceitar a Venezuela no 
Mercosul foi decidida num encontro em Mendoza, na Argentina, dias após o golpe em reunião pleno do órgão para a qual o Paraguai foi desconvidado. Os três presidentes - Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica –, após reunião privativa anunciaram a incorporação da Venezuela.
O Brasil, um dos maiores interessados no ingresso da Venezuela no bloco comercial, teria tido um papel ativo no processo. A presidenta Dilma Rousseff mandou buscar o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, no meio da madrugada, em jatinho da FAB, para ajudar a formatar juridicamente a suspensão do Paraguai do Mercosul, uma vez que havia dúvidas jurídicas sobre o processo de exclusão de um país membro e a incorporação de outro.
O protagonismo do Brasil explica-se por seus interesses econômicos com o país comandado por 
Chávez. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as exportações brasileiras para a Venezuela vêm crescendo ano a ano. O Brasil ocupou importantes fatias de mercado antes hegemonizadas apenas pelos Estados Unidos.

Mercosul desata disputa no Uruguai

A decisão, além da contestação do Paraguai que acusa os seus vizinhos de reedição da tríplice aliança, gerou uma crise no Uruguai. O chanceler uruguaio Luis Almagro teria dito que o país não tinha concordado com a entrada da Venezuela "nessas circunstâncias" no 
Mercosul – e sustentou que o ingresso de Caracas no bloco ocorreu após um pedido "decisivo" feito pelo governo brasileiro. O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, manifestou surpresa com as críticas do chanceler uruguaio: "Ele estava lá e poderia ter sido enfático nisso, ou então se dissociar. O dia que eu quiser me dissociar de uma política da presidenta Dilma, eu pego o chapéu e digo ‘olha, não estou de acordo, vou embora’”.
Ato contínuo, o vice-presidente uruguaio 
Danilo Astori insinou que Mujica adotou uma postura subserviente aos interesses brasileiros. "Esta é a ferida institucional mais grave nos últimos 21 anos do Mercosul", disse o vice-presidente uruguaio.  Mujica desautorizou as afirmações do seu vice e assumiu pessoalmente a decisão de apoio à entrada da Venezuela no Mercosul afirmando que o “fator político venceu o jurídico”.
A raiz das desavenças públicas entre 
Mujica e o seu vice estão relacionadas às divisões internas na Frente Ampla.Mujica e Astori, ambos da Frente Ampla que governa o Uruguai, são de alas diferentes do agrupamento. O presidente é próximo do MPP, formado por ex-guerrilheiros tupamaros, enquanto Astori é ligado ao ex-presidente Tabaré Vásquez, de tendência moderada. Nas últimas eleições presidenciais, Tabaré – que agora anunciou o seu retorno – tentou patrocinar a candidatura de Astori para a sua sucessão, mas Mujica o venceu as prévias internas da Frente Ampla para a definição do candidato. 
Danilo Astori ex- ministro da economia de 
Tabaré Vázques – já foi chamado de "Palocci uruguaio" – nunca escondeu suas críticas ao Mercosul demonstrando preferência por acordos bilaterais com os Estados Unidos. Por outro lado, passados quase dois anos de sua histórica posse, Mujica continua sendo um presidente difícil de digerir para as classes altas uruguaias, que não aceitam sua aversão ao protocolo, sua linguagem popular e estilo de homem do campo. A principal base de apoio do presidente, assegura o analista político Ignácio Zuasnábar continua sendo os estratos mais populares: “Mujica é um fenômeno de representação política dos setores humildes”.
As desavenças em torno do 
Mercosul recolocaram o bloco econômico na agenda de debate e manifestam as diferentes estratégias de países e agentes econômicos. Mesmo no Brasil, os acontecimentos dão conta de que a “direita se assanha contra o Mercosul”. Segundo o jornalista Mauro Santayana, a “FIESP decidiu contratar o ex-embaixador Rubens Barbosa como seu pensador político e porta-voz corporativo. O diplomata, conhecido por sua posição francamente neoliberal, vem combatendo com insistência, a política externa brasileira. Mas, pelo que parece, está prestando mau serviço à indústria de São Paulo, que tem, na Venezuela, um excelente mercado comprador”.
Nos últimos dias, o 
PSDB anunciou que entrará na Justiça brasileira com uma ação contra a decisão do Mercosul de suspender o Paraguai e aceitar a entrada da Venezuela. A iniciativa é do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) que andou se encontrando com o presidente Federico Franco empossado após o golpe.

Fonte:  Instituto Humanitas Unisinos – IHU