quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A maioria dos políticos paraguaios não presta


O velho Nicolás aperta a bomba na erva de Santa Catarina enquanto está mateando. Ele prefere o chimarrão ao tererê, “por causa do frio curitibano”. Lança um olhar perdido no horizonte e sentencia: “A maioria dos políticos paraguaios não presta”. Fala isso com tristeza de um paraguaio legítimo, filho e neto de paraguaios que tombaram na Guerra da Tríplice Aliança e na Guerra do Chaco. “Sou descendente de heróis paraguaios”, lembra com orgulho, e arremata: “Antes da Guerra da Tríplice Aliança o Paraguai era o país mais evoluído da América Latina: tinha estradas de ferro, fabricava locomotivas, tinha indústrias e até reforma agrária. Mas a guerra foi um ato imperialistas de grandes potências contra um pequeno país soberano. Após a guerra, os invasores colocaram no poder políticos da pior espécie, que continuam até os dias de hoje a dominar o país, por isso tanta pobreza, atraso e corrupção no Paraguai.”
Em Curitiba, na ampla casa, costuma receber os amigos em torno de uma sopa paraguaia.
Quando jovem, Nicolás foi militante do movimento estudantil contra a ditadura de Stroessner. Perseguido e preso, fugiu para o Brasil onde constituiu família, casando com uma paraguaia que veio estudar em Curitiba, e aqui ficou. Alguns dos filhos nasceram no Paraguai, outros no Brasil, mas ele jamais perdeu o vínculo com a terra nativa. Até hoje, passados mais de 50 anos, não perdeu o sotaque fronteiriço, e a cada 2 ou 3 meses faz questão de visitar parentes e amigos no Paraguai.
Crítico ferrenho dos políticos paraguaios, também não morre de amores pelos políticos brasileiros, e lembra que os interesses brasileiros-paraguaios sempre se somam para explorar o povo paraguaio: “O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu asilo e protegeu o ditador Stroessner em Brasília. O empreiteiro da Itaipu, Wasmosy, que desviou US$ 1,4 bilhão de dólares da Itaipu e comprou o cargo de presidente do Paraguai, jamais recebeu críticas dos governantes brasileiros. O golpistas e ex-presidente Macchi andava em veículo roubado no Brasil, e também nunca sofreu críticas do governo brasileiro. E os atuais golpistas contam com apoio das elites latifundiárias brasileiras, representadas pelo senador Álvaro Dias”.
Para ele a maioria dos políticos paraguaios é corrupta, e da pior espécie. “Eles impediam a entrada da Venezula no Mercosul para agradar a diplomacia norte-americana, e pediam dinheiro ao presidente Hugo Chavez para mudar de posição. Chantagistas que não se importavam com o progresso dos povos do nosso continente”.
Nicolás considera preocupante a situação dos brasiguaios: “São mais de 600 mil brasileiros ocupando terras no Paraguai, principalmente nas áreas de fronteira. É uma verdadeira invasão. Área de fronteira é área de segurança nacional e não poderia ter brasileiros, mas sim paraguaios, mas a corrupção em todos os setores do governo paraguaio permitiu esse absurdo. E bastou os campesinos paraguaios se mobilizarem pela reforma agrária para a repressão e os interesses antinacionais desencadearam um massacre em Curuguaty e derrubar um governo legítimo. E quem são os golpistas? Os contrabandistas, os traficantes de armas e drogas, os latifundiários estrangeiros, a Monsanto, o embaixador norte-americano e os políticos corruptos.”
Sobre o futuro do país, Nicolás é pessimista: “com raras exceções, a grande maioria dos políticos paraguaios venderia a pátria por 30 moedas de ouro. Esse tipo de gente vai afundar ainda mais o país. Talvez meus netos ou bisnetos vejam alguma melhoria, talvez...”
Hoje o velho Nicolás prefere descansar. Não participa mais de política partidária. “Fiz isso a vida toda, sacrifiquei meu tempo com meus familiares e muito dinheiro. Chegou a hora de descansar, mas se tivesse outra vida, faria tudo de novo, porque morrerei amando o meu país e o meu povo guarani”. 

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