O velho
Nicolás aperta a bomba na erva de Santa Catarina enquanto está mateando. Ele
prefere o chimarrão ao tererê, “por causa do frio curitibano”. Lança um olhar
perdido no horizonte e sentencia: “A maioria dos políticos paraguaios não
presta”. Fala isso com tristeza de um paraguaio legítimo, filho e neto de
paraguaios que tombaram na Guerra da Tríplice Aliança e na Guerra do Chaco.
“Sou descendente de heróis paraguaios”, lembra com orgulho, e arremata: “Antes
da Guerra da Tríplice Aliança o Paraguai era o país mais evoluído da América
Latina: tinha estradas de ferro, fabricava locomotivas, tinha indústrias e até
reforma agrária. Mas a guerra foi um ato imperialistas de grandes potências
contra um pequeno país soberano. Após a guerra, os invasores colocaram no poder
políticos da pior espécie, que continuam até os dias de hoje a dominar o país,
por isso tanta pobreza, atraso e corrupção no Paraguai.”
Em
Curitiba, na ampla casa, costuma receber os amigos em torno de uma sopa
paraguaia.
Quando
jovem, Nicolás foi militante do movimento estudantil contra a ditadura de
Stroessner. Perseguido e preso, fugiu para o Brasil onde constituiu família,
casando com uma paraguaia que veio estudar em Curitiba, e aqui ficou. Alguns
dos filhos nasceram no Paraguai, outros no Brasil, mas ele jamais perdeu o
vínculo com a terra nativa. Até hoje, passados mais de 50 anos, não perdeu o
sotaque fronteiriço, e a cada 2 ou 3 meses faz questão de visitar parentes e
amigos no Paraguai.
Crítico
ferrenho dos políticos paraguaios, também não morre de amores pelos políticos
brasileiros, e lembra que os interesses brasileiros-paraguaios sempre se somam
para explorar o povo paraguaio: “O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
concedeu asilo e protegeu o ditador Stroessner em Brasília. O empreiteiro da
Itaipu, Wasmosy, que desviou US$ 1,4 bilhão de dólares da Itaipu e comprou o
cargo de presidente do Paraguai, jamais recebeu críticas dos governantes
brasileiros. O golpistas e ex-presidente Macchi andava em veículo roubado no
Brasil, e também nunca sofreu críticas do governo brasileiro. E os atuais
golpistas contam com apoio das elites latifundiárias brasileiras, representadas
pelo senador Álvaro Dias”.
Para ele
a maioria dos políticos paraguaios é corrupta, e da pior espécie. “Eles
impediam a entrada da Venezula no Mercosul para agradar a diplomacia
norte-americana, e pediam dinheiro ao presidente Hugo Chavez para mudar de
posição. Chantagistas que não se importavam com o progresso dos povos do nosso
continente”.
Nicolás
considera preocupante a situação dos brasiguaios: “São mais de 600 mil
brasileiros ocupando terras no Paraguai, principalmente nas áreas de fronteira.
É uma verdadeira invasão. Área de fronteira é área de segurança nacional e não
poderia ter brasileiros, mas sim paraguaios, mas a corrupção em todos os
setores do governo paraguaio permitiu esse absurdo. E bastou os campesinos
paraguaios se mobilizarem pela reforma agrária para a repressão e os interesses
antinacionais desencadearam um massacre em Curuguaty e derrubar um governo
legítimo. E quem são os golpistas? Os contrabandistas, os traficantes de armas
e drogas, os latifundiários estrangeiros, a Monsanto, o embaixador
norte-americano e os políticos corruptos.”
Sobre o
futuro do país, Nicolás é pessimista: “com raras exceções, a grande maioria dos
políticos paraguaios venderia a pátria por 30 moedas de ouro. Esse tipo de
gente vai afundar ainda mais o país. Talvez meus netos ou bisnetos vejam alguma
melhoria, talvez...”
Hoje o
velho Nicolás prefere descansar. Não participa mais de política partidária. “Fiz
isso a vida toda, sacrifiquei meu tempo com meus familiares e muito dinheiro.
Chegou a hora de descansar, mas se tivesse outra vida, faria tudo de novo,
porque morrerei amando o meu país e o meu povo guarani”.
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