A Monsanto e o golpe de Estado no Paraguai
LUDOVIC VOET*
A empresa americana especializada em
biotecnologia vegetal não tem as mãos limpas nos eventos recentes no Paraguai.
No dia 21 de outubro de 2011 o Ministro da
Agricultura, o liberal Enzo Cardozo, permitiu ilegalmente a plantação da
semente de algodão transgênica Bollgard Bt da companhia Monsanto para uso
comercial no Paraguai. As reações dos movimentos camponeses e ecologistas foram
imediatas.
Na Índia, já em 2009, a organização Navdanya
publicava um relatório no qual afirmava que “o algodão Bt deixa os solos
inférteis reduzindo a atividade microbiana”. Esse algodão transgênico contém
uma bactéria tóxica. Mas para assegurar a si própria o máximo de lucro Monsanto
está pronta para tudo. A empresa não respeitou decisão do escritório paraguaio
do Comitê de Proteção das Plantas do Cone Sul (SENAVE) que reúne Argentina,
Uruguai, Chile, Paraguai e Brasil dirigida por Miguel Lovera, de não registrar
essa semente transgênica porque ela não respeitava as regras do Ministério da
Saúde Pública.
Durante o mês precedente ao golpe de Estado no
Paraguai a Monsanto – através do lobby dos grandes proprietários de terras da
UGP (União dos Grêmios de Produção) em coordenação com a mídia dominante -
lançou uma campanha encarniçada exigindo a demissão de Lovera. Em 8 de junho a
UGP fazia aparecer no jornal ABC, em seis colunas “12 argumentos para destituir
Lovera”. A ministra da Saúde Esperanza Martinez e o ministro do Clima Osmar
Rios não vinham mais aceitando as ordens da Monsanto. Lovera e eles foram
acusados de corrupção pelo jornal ABC de propriedade de Aldo Zuccolillo, um dos
membros de seu grupo de empresas (Grupo Zuccolillo), não é outro senão Hector
Cristaldo, o presidente da UGP. A lista das ligações entre os grandes capitalistas
no Paraguai é longa para se descrever...
Em 2011 a Monsanto fez negócios de 30 milhões de
dólares, livres de impostos, somente pelos royalties pelo uso das sementes de
soja transgênica no Paraguai. Ao mesmo tempo a Monsanto vende sementes transgênicas
que são utilizadas pela cultura de soja sobre mais de três milhões de hectares.
As transnacionais do agrobusiness não pagam quase nenhum imposto no Paraguai
protegidas pela maioria de direita no Congresso. 60% do orçamento nacional vem
da T.V.A. e 13% dos impostos são essencialmente pagos pelos trabalhadores.
Entretanto a quantidade dos negócios das grandes multinacionais do agrobusiness
é de 6 bilhões de dólares anuais, perto de 30% do PIB.
A gota d’água teria sido que o governo Lugo
tinha acabado de criar um organismo de biossegurança sob a direção do Ministro
da Agricultura a quem competia arbitrar sobre o uso de tal ou qual semente, o
que significaria que o governo poderia tocar nos interesses e nos lucros
desmedidos da Monsanto e seus associados no setor.
A UGP convocou para o dia 25 de junho um
“Tratoraço”, uma manifestação para parar o país com a ajuda das máquinas
agrícolas dirigida contra o governo Lugo e exigindo a destituição de Lovera. Os
eventos de Curuguaty teriam sido a ocasião ideal para se desembaraçar do
presidente embaraçoso. Em 22 de junho face aos fatos a Ministra da Saúde
Esperanza Martinez remetia sua demissão ao “presidente Franco” por não
sustentar o golpe de Estado recentemente realizado.
*Ludovic Voet publicou este artigo no jornal
“Solidaire”, órgão do Partido do Trabalho da Bélgica.
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