terça-feira, 31 de julho de 2012

A Monsanto e o golpe de Estado no Paraguai


LUDOVIC VOET*

A empresa americana especializada em biotecnologia vegetal não tem as mãos limpas nos eventos recentes no Paraguai.
No dia 21 de outubro de 2011 o Ministro da Agricultura, o liberal Enzo Cardozo, permitiu ilegalmente a plantação da semente de algodão transgênica Bollgard Bt da companhia Monsanto para uso comercial no Paraguai. As reações dos movimentos camponeses e ecologistas foram imediatas.
Na Índia, já em 2009, a organização Navdanya publicava um relatório no qual afirmava que “o algodão Bt deixa os solos inférteis reduzindo a atividade microbiana”. Esse algodão transgênico contém uma bactéria tóxica. Mas para assegurar a si própria o máximo de lucro Monsanto está pronta para tudo. A empresa não respeitou decisão do escritório paraguaio do Comitê de Proteção das Plantas do Cone Sul (SENAVE) que reúne Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Brasil dirigida por Miguel Lovera, de não registrar essa semente transgênica porque ela não respeitava as regras do Ministério da Saúde Pública.
Durante o mês precedente ao golpe de Estado no Paraguai a Monsanto – através do lobby dos grandes proprietários de terras da UGP (União dos Grêmios de Produção) em coordenação com a mídia dominante - lançou uma campanha encarniçada exigindo a demissão de Lovera. Em 8 de junho a UGP fazia aparecer no jornal ABC, em seis colunas “12 argumentos para destituir Lovera”. A ministra da Saúde Esperanza Martinez e o ministro do Clima Osmar Rios não vinham mais aceitando as ordens da Monsanto. Lovera e eles foram acusados de corrupção pelo jornal ABC de propriedade de Aldo Zuccolillo, um dos membros de seu grupo de empresas (Grupo Zuccolillo), não é outro senão Hector Cristaldo, o presidente da UGP. A lista das ligações entre os grandes capitalistas no Paraguai é longa para se descrever...
Em 2011 a Monsanto fez negócios de 30 milhões de dólares, livres de impostos, somente pelos royalties pelo uso das sementes de soja transgênica no Paraguai. Ao mesmo tempo a Monsanto vende sementes transgênicas que são utilizadas pela cultura de soja sobre mais de três milhões de hectares. As transnacionais do agrobusiness não pagam quase nenhum imposto no Paraguai protegidas pela maioria de direita no Congresso. 60% do orçamento nacional vem da T.V.A. e 13% dos impostos são essencialmente pagos pelos trabalhadores. Entretanto a quantidade dos negócios das grandes multinacionais do agrobusiness é de 6 bilhões de dólares anuais, perto de 30% do PIB.
A gota d’água teria sido que o governo Lugo tinha acabado de criar um organismo de biossegurança sob a direção do Ministro da Agricultura a quem competia arbitrar sobre o uso de tal ou qual semente, o que significaria que o governo poderia tocar nos interesses e nos lucros desmedidos da Monsanto e seus associados no setor.
A UGP convocou para o dia 25 de junho um “Tratoraço”, uma manifestação para parar o país com a ajuda das máquinas agrícolas dirigida contra o governo Lugo e exigindo a destituição de Lovera. Os eventos de Curuguaty teriam sido a ocasião ideal para se desembaraçar do presidente embaraçoso. Em 22 de junho face aos fatos a Ministra da Saúde Esperanza Martinez remetia sua demissão ao “presidente Franco” por não sustentar o golpe de Estado recentemente realizado.

*Ludovic Voet publicou este artigo no jornal “Solidaire”, órgão do Partido do Trabalho da Bélgica.

 


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